Eu mereço o silêncio, quando eu desejar,
E o grito, quando ele vier.
Eu mereço o vômito, a companhia, a solidão.
Mereço o dom da palavra, escancarada, absorta em notas de verdade.
Eu mereço o som do vento nas folhas enquanto caminho ou corro pelas alamedas das ruas e do meu pensamento...
Mereço a vida, dar vida ao ser que gesto e que tão logo escorrerá por minhas entranhas.
Eu mereço o afago depois da dor inescrupulosa, impiedosa.
Mereço a verdade, o respeito, a compaixão, a sororidade, a empatia.
Eu mereço guardar a dor e velá-la em sintonia com o vivido...
Que seja acesa uma vela por aquilo que me foi tirado em gotas!
Eu mereço a saúde e o respeito de continuar existindo;
A vaidade de continuar resistindo, a dignidade de ser mulher, e sempre de verdade.
Eu mereço ser escutada à tentativa de ser silenciada, difamada, humilhada e açoitada in continuum por simpatizantes sadistas da dor.
Eu mereço horizontes, o sorriso, a lágrima, a verdade que atravessa rasgando e zomba de quem a morte promove.
Mereço o dia, a noite, o respeito, o amanhã.
Eu mereço descansar de narrativas desdenhosas, que criam e recriam versões conforme interesses.
Conheço bem aqueles dias, aquelas dúvidas, aquelas noites, aquele medo...a personificação da censura.
Quero mais é me alimentar de faíscas de esperança, rasgar a verbo.
Para isso nasci: para caminhar em direção à verdade, pela verdade.
"Minha vingança é sobreviver e vencer" todos os dias.
Eu mereço descansar nos vales da esperança, nos braços da justiça, no seio da democracia.
Eu mereço, eu mereço, eu sei que mereço...
Deisy Feitosa (1-06-2022)
Poesia dedicada à Miriam Leitão - por um 3 de dezembro de 1972 tortuoso que durou três meses
https://www.google.com/amp/s/congressoemfoco.uol.com.br/amp/projeto-bula/nota/miriam-leitao-fala-sobre-tortura-vivida-na-ditadura-militar/
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