sexta-feira, 2 de setembro de 2022

1972: O VOTO É LIVRE, COMO PODEMOS SER

Eu mereço o silêncio, quando eu desejar,

E o grito, quando ele vier.

Eu mereço o vômito, a companhia, a solidão.

Mereço o dom da palavra, escancarada, absorta em notas de verdade.

Eu mereço o som do vento nas folhas enquanto caminho ou corro pelas alamedas das ruas e do meu pensamento...

Mereço a vida, dar vida ao ser que gesto e que tão logo escorrerá por minhas entranhas.

Eu mereço o afago depois da dor inescrupulosa, impiedosa.

Mereço a verdade, o respeito, a compaixão, a sororidade, a empatia.

Eu mereço guardar a dor e velá-la em sintonia com o vivido... 

Que seja acesa uma vela por aquilo que me foi tirado em gotas!

Eu mereço a saúde e o respeito de continuar existindo;

A vaidade de continuar resistindo, a dignidade de ser mulher, e sempre de verdade.

Eu mereço ser escutada à tentativa de ser silenciada, difamada, humilhada e açoitada in continuum por simpatizantes sadistas da dor.

Eu mereço horizontes, o sorriso, a lágrima, a verdade que atravessa rasgando e zomba de quem a morte promove.

Mereço o dia, a noite, o respeito, o amanhã.

Eu mereço descansar de narrativas desdenhosas, que criam e recriam versões conforme interesses.

Conheço bem aqueles dias, aquelas dúvidas, aquelas noites, aquele medo...a personificação da censura.

Quero mais é me alimentar de faíscas de esperança, rasgar a verbo.

Para isso nasci: para caminhar em direção à verdade, pela verdade.

"Minha vingança é sobreviver e vencer" todos os dias.

Eu mereço descansar nos vales da esperança, nos braços da justiça, no seio da democracia.

Eu mereço, eu mereço, eu sei que mereço...

Deisy Feitosa (1-06-2022)

Poesia dedicada à Miriam Leitão - por um 3 de dezembro de 1972 tortuoso que durou três meses

https://www.google.com/amp/s/congressoemfoco.uol.com.br/amp/projeto-bula/nota/miriam-leitao-fala-sobre-tortura-vivida-na-ditadura-militar/

Nenhum comentário:

Postar um comentário